O facto de se ter construído uma capela para a invocação
de Nossa Senhora dos Milagres suscita grandes curiosidades. A sua explicação
cinge-se a uma lenda, apresentada em duas versões que se prendem
com o mesmo cenário, como em quase todas as histórias de
aparições Marianas:
- O aparecimento da virgem aos pastores,
no monte. Destas duas versões, Pindelo dos Milagres apresenta a
seguinte:
Lenda da Capela de Nossa Senhora dos Milagres -
Reza a lenda que um grupo de crianças tinha por hábito levar
gado a pastar para o alto da crica. Por ser um monte de escassa vegetação,
os pais não gostavam que elas fossem com o gado para aquele sítio,
pois desta forma não engordavam. A certa altura, o gado começou
a engordar e as crianças andavam sempre felizes e nunca cansadas.
Perante este cenário as pessoas começaram a fazer perguntas, às
quais as crianças respondiam que no monte, aparecia a imagem de
uma santa, envolta em luz e que brincava com elas, a população
tentou levar a imagem para perto da povoação, mas acabava
sempre por desaparecer e voltar ao monte onde tinha sido encontrada. Mais
tarde, ergueu-se nesse local, uma capela em devoção a Nossa
Senhora dos Milagres.
Danças e Cantares:
As danças e os cantares fazem
a alegria de bons momentos entre os habitantes de Pindelo dos Milagres.
O grupo de cantares e o rancho folclórico têm contribuído
para a recolha e divulgação destas tradições.
Ambos possuem um repertório muito vasto e variado, de temas que
o povo cantava, quer no trabalho ou na romaria, tentando através
delas demonstrar felicidade. No trajecto, a pé, para a romaria
cantava-se e dançava-se a “ó laranja ao ar”, “o
pavão”; nos campos, ouviam-se as cantigas, abafadas
pelo cansaço do trabalho árduo, como “na banda
de lá do rio”, “as desfolhadas”;
dedicadas a Nossa Senhora existem cantigas como “Ó Rosita”;
ao amor não correspondido destaca-se “lá baixo
em João Monge”, “namorei uma donzela” ou “Rapazes
vou vos contar os passos de minha vida”. Mas, algumas destas
cantigas ajudam o ouvinte a situar, geograficamente, esta bela freguesia
como é o caso de “minha terra é o Vouga”.
Relata-se, aqui, a localização da freguesia, com a mó da
alveira, onde o povo ia moer a farinha, e como ficava longe, pelo caminho
cantavam para afastar o cansaço.
Minha terra é o
Vouga
Minha terra é o Vouga
Meu amor é moleira
Meu coração é o trigo
Ó h ai moído na mó alveira
Se vais para militar
Fica a moleira sozinha
E logo de madrugada
Aí vai ela moer farinha
Ó moinho do meu Vouga
Não deixes a mó parar
Meu coração é o trigo
E o meu amor é um militar.
(Recolha do grupo de cantares)
Pindelo que lindo cantar
Pindelo que linda terra
Por isso tem seu encanto
Com a sua capelinha
Que eu adoro tanto!
Dançai raparigas ao romper do dia
Dançai raparigas nesta romaria!
Fica cá na Beira Alta
Bem pertinho de Viseu
A Senhora dos Milagres
Foi um dom que Deus lhe deu!
Estamos já a terminar
Esta nossa actuação
Vamo-nos dizer adeus
Até outra ocasião!
(Recolha e adaptação do Rancho folclórico)
Trajes e vestuário:
Não deixando a recolha só pelo canto e dança o Grupo
de Cantares e o Rancho Folclórico fez também a recolha e
preservação de trajes, outrora reveladores de uma condição
social, os trajes são peças de vestuário tradicionais
de uma região. Em Pindelo dos Milagres, estes também não
são excepção e podem ser apreciados nas diversas
actuações destes dois grupos, uma vez que os seus elementos
os envergam. Os mais notáveis são:
- Traje domingueiro
feminino: é composto por uma saia de amur de seda,
com algumas barras de veludo, avental riscado de amur ou de lã com
fitas ainda hoje usado pelas mulheres mais idosas), blusa com rendas nas
golas e nas mangas, ou com pregas, e um lenço “chinês” de
seda ou de lã. É de referir, ainda, a quantidade de ouro
que a mulher ostenta.
- Traje domingueiro masculino: este
traje é composto por umas calças e um colete preto, botas
pretas, camisa de riscas ou branca, muitas vezes de linho e um chapéu
preto.
- Traje de trabalho do homem: Este traje
consiste numas calças de burel, camisa riscada, chapéu preto
e chancas ou tamancos. Por vezes, o homem também usava colete.
Jogos Tradicionais:
Nas tradições não podemos deixar de referir os JOGOS
TRADICIONAIS os quais sempre tiveram uma componente educativa
e social. Sem luxos nem despesas podiam ser praticados em qualquer lugar
e a qualquer hora. Cientes do papel que estas actividades têm, e
procurando não os deixar cair em esquecimento, os habitantes de
Pindelo dos Milagres praticam alguns destes jogos que foram assando de
geração em geração, entre eles podemos detacar:
Jogo de Cartas – Sueca; Jogo do Pião; Jogo das Pedrinhas;
Jogo de Cordas (Para este jogo são necessárias duas equipas.
Cada equipa puxa a corda para seu lado, quem tiver mais força,
ganha).
- Jogo de Cartas – Sueca
A sueca é um jogo e de cartas em que participam quatro jogadores, dois
contra dois, com os parceiros sentados frente a frente. O baralho tem somente
40 cartas, sendo removidos os oitos, os noves, e os dez. O objectivo e ganhar
as cartas que valem pontos. Assim as cartas valem: ás, 11 pontos; sete,
10 pontos; rei, 4 pontos; valete, 3 pontos; dama, 2 pontos; 6, 5, 4, 3, 2, zero
pontos. Há cento e vinte pontos somados no baralho.
O jogador que começa foi aquele que cortou o baralho. Os outros jogadores
devem seguir o naipe escolhido pelo primeiro jogador. Aquele que não tiver
cartas do naipe puxado pode jogar cartas de outro qualquer naipe, incluindo o
trunfo. A carta mais alta do naipe, ou o trunfo mais alto, ganha a jogada. O
participante que ganhou puxa o próximo naipe.
- Jogo do Pião
Num espaço amplo, de preferência de terra batida, fazia-se uma roda
no chão e cada jogador atirava o pião para dentro dela. Enquanto
o pião girava, era atingido com sêcas até sair da roda. O
jogador só podia voltar a lançar o pião quando isso acontecia.
Existia ainda outra forma de jogar: no terreno era feito um ponto de partida
do jogo e noutro ponto era feita uma cova, denominada “nicha”. Os
jogadores dividiam-se por duas equipas: uma empurrava o pião para a nicha
e a outra tentava evitá-lo. Se o pião entrasse na nicha, cada jogador
da equipa perdedora teria de disponibilizar um pião para levar com as
sêcas.
- Jogo das Pedrinhas
Para praticar este jogo são necessárias cinco pedrinhas e dois
ou mais jogadores. À medida que o jogo se desenvolve, aumenta o grau de
dificuldade. Um jogador lança para uma superfície lisa, por exemplo
para uma mesa, as cinco pedrinhas, tentando que elas fiquem o mais próximo
possível, mas sem tocar umas nas outras. Então, esse mesmo jogador
pega numa das pedrinhas, preferencialmente a que estiver mais afastada das restantes,
e lança-a ao ar com a mão direita. Enquanto essa pedrinha está no
ar, o jogador deve apanhar com a mão direita uma das restantes pedrinhas,
e passa-la para a mão esquerda, sem mexer nas restantes, dizendo:
-uma.
Em seguida, lança ao para segunda, tendo que recuperar uma terceira, dizendo:
-duas.
Finalmente, lança ao ar a terceira e apanha a quarta, dizendo:
-arrebanha tudo.
De seguida, o participante repete os movimentos anteriores, apanhando as restantes
pedrinhas duas a duas, proferindo:
-duas.
E, depois:
-arrebanha tudo.
Então apanha as pedrinhas três a três, repetindo os mesmos
movimentos, e diz:
- Três.
Recolhe a pedrinha restante diz:
-arrebanha tudo.
Finalmente, as quatro pedrinhas de uma só vez, dizendo:
-arrebanha tudo.
O Artesanato:
Para terminar e completar
as tradiçoes de Pindelo dos Milagres temos o ARTESANATO revela
as tradições de um povo, os seus hábitos e costumes,
transpondo nos mais diversos trabalhos arte e beleza. Pindelo dos Milagres é uma
freguesia rural, que outrora se servia da imaginação
para colmatar certas carências do dia-a-dia. Estas, com o progresso,
existem ainda pessoas que se dedicam à manifestação
artesanal, podendo-se, desta forma, admirar as bonitas Rendas e
as confecções das Costureiras.